Conceição dos Bugres | Galeria Estação

Esta exposição na Galeria Estação, com curadoria do professor Miguel Chaia, é a primeira individual em São Paulo da artista nascida no Rio Grande do Sul que menina se mudou para o Mato Grosso. Foi em Campo Grande que Conceição dos Bugres viu o despontar e o amadurecimento de sua original produção.  A mostra é uma oportunidade rara de se ver reunidos os trabalhos da escultora, já que estão dispersos em diferentes coleções particulares do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Conceição Freitas da Silva (1914, Povinho de Santiago, RS – 1984, Campo, MS), conhecida como Conceição dos Bugres por eleger o índio o protagonista de toda a sua criação, construiu uma obra radical ao optar por um único tema e desdobrar de maneira singular forma e técnica infinitamente. Segundo o curador, a artista alcança um resultado de alto nível estético, fundamentado na repetição da igualdade e na especificidade da diferença. “Tema único, o índio. Forma básica, a cilíndrica. Com tais recursos parcimoniosos, Conceição produz uma das mais interessantes relações entre cultura e arte, expressando novos vínculos entre etnia e estética”, continua Chaia.
A artista, que começou esculpindo raiz de mandioca embaixo de árvores, ao passar para a madeira declarava que o material tem seu próprio potencial de gerar forma. A centralidade do índio na imagem de suas esculturas é atribuída ao seu conhecimento sobre uma mitologia na qual estaria envolvido um índio de cem anos atrás, portador de uma forma semelhante à de seus bugres. Cabe considerar também, que a vivência da artista se passa em Ponta Porã e Campo Grande e na fronteira com o Paraguai, regiões marcadas pela presença do povo Guarani. “Pode-se, inclusive, levantar a possibilidade de Conceição esculpir a imobilidade do índio, o momento congelado da violência, como uma consequência da sujeição do povo indígena no Brasil”, completa Chaia.

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