O desaparecimento dos cinemas de rua é o tema da exposição “Cinema Fantasma” que a artista visual carioca Caroline Valansi inaugura no dia 1º de novembro, no Sesc São João de Meriti. Com curadoria de Daniela Name, a individual reúne uma série de obras nas quais novas tecnologias de programação e cinema dialogam com técnicas clássicas de impressão em placas de metal, utilizados no século passado, para divulgação de filmes nos jornais.
O projeto expositivo é composto por três obras complementares. A primeira é uma projeção de vídeo arte com fotos de cinemas de rua fechados com uma locução em off. A segunda é um letreiro com a escrita “Cinema Fantasma”. E a terceira é uma série de impressões em folhas de relevo seco em madrepérola e tinta fosforescente na parede, utilizando placas de metal históricos da coleção e acervo da artista.
A proposta é conduzir o público por uma experiência sensorial, com variações de iluminação e som no ambiente, que serão viabilizados por um projeto tecnológico de programação eletrônica que articula as temporalidades e ações pela sala expositiva, em ciclos de aproximadamente oito minutos.
Durante o período expositivo também serão realizadas três oficinas práticas de técnicas de impressão com prensa portátil, relacionadas com a história do cinema e também rodas de conversa com a artista e curadora.
“Pensar nos cinemas de rua e na sua relação com a cidade é refletir sobre as mudanças do meio urbano e da sociedade contemporânea. Hoje, vemos uma nova relação do público com o cinema, cada vez mais privado em telas de computador e celulares. Ir ao cinema, uma ação coletiva, tornou-se um programa caro e tradicionais grupos exibidores sobrevivem aos trancos e barrancos tendo que se associar a grandes marcas para se manterem no mercado”, explica a artista.
O projeto faz um mergulho imagético e conceitual nas ruínas desses cinemas de rua e nas atividades coletivas. A pesquisa de Caroline Valansi trabalha a resignificação dos espaços urbanos, a poética das salas de cinema, o significado de seus fechamentos e o que resta de memória afetiva dessas gerações que tinham o cinema de rua como sua maior fonte de entretenimento.Além disso, a artista utiliza materiais históricos do mercado de cinema para ampliar a discussão para questões contemporâneas como feminismo e objetificação do corpo da mulher.
Além de uma extensa pesquisa, a artista carrega a bagagem de uma família que foi fundamental na popularização das salas de cinema do Rio de Janeiro, sendo os Valansi responsáveis por espaços como: o Ópera, hoje Supermarket na Praia de Botafogo; os gêmeos Coral e Scala, hoje Espaço Itaú de Cinema, também na Praia de Botafogo; Orly, funcionou como cinema pornô até 2014 na Cinelândia, centro da cidade, hoje fechado e o mais importante pela história que deixou, o Paissandu, localizado no bairro do Flamengo, onde hoje funciona uma academia de ginástica. Este ficou conhecido por formar a Geração Paissandu, uma legião de jovens cinéfilos que se reuniam a partir das sessões para debater o cinema, a cultura, política, economia e relações internacionais, a partir das obras de grandes diretores do cinema europeu, americano, asiático e do Cinema Novo.
Toda essa trajetória gerou uma riqueza de objetos de pesquisa, como registros fotográficos, pôsteres, películas de filmes, projetores, clichês, entre outros materiais usados nos tempos áureos das salas. Com todo esse repertório, a artista busca em “Cinema Fantasma” submergir o público nessa memória que habita as ruas da cidade do Rio de Janeiro, ainda que os prédios tenham assumido novas funções sociais e tido parte de sua identidade apagada.

