Cais | Galatea

Maria Macêdo, Dança para um Futuro Cego, 2021 - Participante da 30ª edição da MAJ – Mostra de Arte da Juventude

Antônia Bergamin, Conrado Mesquita e Tomás Toledo inauguram uma nova unidade da Galatea na cidade de Salvador, em busca de ampliar o seu público e conexões para além do eixo Rio-São Paulo. O segundo empreendimento dos sócios fundadores abre as portas menos de dois anos depois da fundação da galeria na Rua Oscar Freire, na capital paulista, em junho de 2022.

O endereço escolhido na capital baiana é o Centro Histórico de Salvador. Mais precisamente no Edifício Bráulio Xavier, na Rua Chile, primeiro logradouro do Brasil, entre a Praça Castro Alves e o Elevador Lacerda. Marco da cidade, o edifício modernista abriga em sua lateral o mural intitulado A colonização do Brasil, feito pelo artista Carybé em 1962, hoje tombado pelo IPHAN.

A Galatea Salvador iniciará as atividades com a exposição coletiva “Cais” elaborada a partir de uma cuidadosa curadoria do sócio Tomás Toledo e Alana Silveira. Com vasta e notável trajetória na cena cultural, depois de já ter atuado em funções como diretora artística, produtora executiva, coordenadora de produção, gestora de acervos e curadora, Alana assume a direção da unidade na capital baiana.

“Cais” será uma experiência única que conectará gerações da arte brasileira ao reunir cerca de 60 nascidos e radicados de diversas áreas do Nordeste, misturando e friccionando nomes históricos e contemporâneos, de formação tradicional e autodidata. A primeira exposição do espaço soteropolitano está lastreada na produção de quatro artistas nordestinos representados pela galeria: Aislan Pankararu, Chico da Silva, José Adário e Miguel dos Santos. A partir de elementos e temas chave da obra destes nomes serão derivados os conteúdos de quatro núcleos que constituem a mostra: Fantasias de fauna e flora; Geometrias afro-indígenas e brasileiras; Máscaras expandidas e Representações da religiosidade e cultura afro-indígena e brasileira, divididos entre pinturas, esculturas e fotografias. Estão presentes na exposição nomes consagrados como Abraham Palatnik, Ayrson Heráclito, Cícero Dias, Emanoel Araújo, Francisco Brennand, Mestre Dicinho, Mestre Didi, Rubem Valentim e Tunga.

A expografia da mostra e o projeto de arquitetura do espaço de 400 metros quadrados são assinados pelo Estúdio Anagrama, que pensa arquiteturas, mobiliários e objetos de design a partir do reuso. Entre as iniciativas de destaque do estúdio, está o projeto do Casarão 28, reforma de um edifício do século XVIII, localizado no Centro Histórico de Salvador, Bahia. A obra reaproveitou restos de mais de 15 reformas e demolições realizadas na região metropolitana da cidade.

Efervescência soteropolitana

A chegada da Galatea se alinha a um momento em que o centro histórico de Salvador recebe diversas iniciativas de restauração dos seus edifícios emblemáticos e de recuperação da sua vida turística e cultural. A própria Rua Chile e seus entornos acolhem importantes projetos de restauração e renovação como: o antigo Hotel Palace, hoje Fera Palace; o antigo prédio do jornal A Tarde, hoje Hotel Fasano; o Palacete Tira-Chapéu, em processo de restauração para se tornar um centro gastronômico; a transformação, em curso, do Palácio Rio Branco no Hotel Rosewood; o projeto do Casarão 28, reforma de um edifício do século XVIII na região.

Novas iniciativas e projetos culturais compõem o cenário efervescente atual da capital baiana. Recentemente, em novembro, ocorreu a reabertura do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB); em setembro, a criação do Museu de Arte Contemporânea (MAC), em julho, a associação cultural paulista Pivô se instalou no Boulevard Suíço. As novidades vão continuar em 2024, quando a galeria carioca Nonada também promete chegar a Salvador. A cidade se consolida ainda na rota de importantes exposições em itinerância pelo Brasil, a exemplo de “Um defeito de cor”, realizada no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB), e “Brasil Futuro: as formas da democracia”, no Solar do Ferrão.

Artistas participantes da coletiva Cais

Abraham Palatnik (1928, Natal, RN – 2020, Rio de Janeiro, RJ), Adenor Gondim (1950, Rui Barbosa, BA), Adriano Machado (1986, Feira de Santana, BA), Agnaldo Manuel dos Santos (1926, Ilha de Itaparica, BA – 1962, Salvador, BA), Aislan Pankararu (1990, Petrolândia, PE), Ana Fraga (1974, São Félix, BA), Antônio Bandeira (1922, Fortaleza, CE, BR – 1967, Paris, FR), Antônio Maia (1928, Carmópolis, SE – 2008, Rio de Janeiro, RJ), Ariano Suassuna (1927, João Pessoa, PB – 2014, Recife, PE), Armando Sá (1918, Salvador, BA – 2005, Salvador, BA), Aurelino dos Santos (1942, Salvador, BA), Ayrson Heráclito (1968, Macaúbas, BA), Bauer Sá (1950, Salvador, BA), Bruno Novelli (1980, Fortaleza, CE), Chico da Silva (Francisco Domingos da Silva) (1910, Alto Tejo, AC — 1985, Fortaleza, CE), Cícero Dias (1907, Escada, PE, BA – 2003, Paris, FR), Davi Rodrigues (1968, Cachoeira, BA), Dinho Araujo (1985, Pinheiro, MA), Edsoleda Santos (1965, Salvador, BA), Elias Santos (1964, Aracaju, SE), Elisa Martins da Silveira (1912, Teresina, PI – 2001, Rio de Janeiro, RJ), Emanoel Araújo (1940, Santo Amaro, BA – 2022, São Paulo, SP), Francisco Brennand (1927, Recife, PE – 2019, Recife, PE), Galeno (1957, Parnaíba, PI), Genaro de Carvalho (1926, Salvador, BA – 1971, Salvador, BA), Gerson Souza (1926, Recife, PE – 2008, Rio de Janeiro, RJ), Gilberto Filho (1953, Cachoeira, BA), Grauben do Monte Lima (1889, Iguatu, CE – 1972, Rio de Janeiro, RJ), Heloísa Juaçaba (1926, Guaramiranga, CE), Isabela Seifarth (1989, Salvador, BA), Jayme Fygura (1951, Cruz das Almas, BA – 2023, Salvador, BA), João Alves (1906, Ipirá, BA  – c. 1970, Salvador, BA), José Adário (1947, Salvador, BA), José Bezerra (1952, Buique, PE), J. Cunha (1948, Salvador, BA), José de Freitas (1935, Vitória de Santo Antão, PE – 1989, Rio de Janeiro, RJ), José Ignácio (1911, Arauá, SE – 2007, Aracaju, SE), José Tarcísio Ramos (1941, Fortaleza, CE), Lázaro Roberto (1958, Salvador, BA) Lucas Cordeiro (1994, Itapetinga, BA) Luciano Figueiredo (1948, Fortaleza, CE), Manuel Messias dos Santos (1945, Aracajú, Sergipe – 2001, Rio de Janeiro, RJ), Marepe (1970, Santo Antônio de Jesus, BA), Mario Cravo Neto (1947, Salvador, BA – 2009, Salvador, BA), Marlene de Almeida (1942, Bananeiras, PB), Martinho Patrício (1964, João Pessoa, PB), Mestre Dicinho (Adilson Carvalho) (1945, Jequié, BA), Mestre Didi (1917, Salvador, BA – 2013, Salvador, BA), Mestre Zimar (1959, Matinha, MA), Miguel dos Santos (1944, Caruaru, PE), Montez Magno (1934, Timbaúba, PE – 2023, Recife, PE), Nilda Neves (1961, Botuporã, BA), Rebeca Carapiá (1988, Salvador, BA), Rubem Ludolf (1932, Maceió, AL – 2010, Rio de Janeiro, RJ), Rubem Valentim (1922, Salvador, BA – 1991, São Paulo, SP), Thiago Costa (1992, Bananeiras, PB), Tiago Sant’Ana (1990, Santo Antônio de Jesus, BA), Tunga (1952, Palmares, PE – 2016, Rio de Janeiro, RJ).

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