E se os livros de história e meios de comunicação oficiais registrassem as vidas das pessoas comuns? Foi com base nessa ideia que o artista Bruno Novaes criou seu novo livro, “Diário 366”, que será lançado em 18 de Julho (domingo), em evento no Centro Cultural Correios São Paulo.
O artista deu início ao projeto que resultou no livro com a elaboração de um diário pessoal. Durante todos os dias de um ano bissexto, fez registros de sua vida usando diferentes linguagens como pintura, colagem e texto. Em seguida, voluntários escolheram dias do ano e receberam pelos correios as páginas do diário, em forma de cartão postal.
Então, o artista pediu que os participantes lhe enviassem itens que explicassem o motivo da escolha por um dia específico. Em troca, recebeu objetos como roupas, cartas, obras de arte, ingressos para peças de teatro e até uma certidão de óbito. No livro, as páginas do diário do artista e os itens dos participantes são colocados lado a lado, dia a dia, criando uma troca de confidências e memórias que conta de forma simultânea a história de mais de trezentas pessoas.
Em alguns casos, os itens faziam referência direta a acontecimentos coletivos, enquanto em outros, os objetos chegaram ao artista sem explicações explícitas, exigindo que o leitor use a imaginação para tentar interpretar seus significados nas vidas dos participantes. Consequentemente, o livro tem ao mesmo tempo o caráter de documento e de narrativa de ficção.
Com um trabalho artístico que passa por questões como identidade, memória e afeto, para Bruno, é importante jogar luz sobre histórias que muitas vezes passam despercebidas, levantando questionamentos sobre o poder dos arquivos tradicionais, que perpetuam a produção de conhecimento. Seu trabalho convida a refletir sobre quais outras narrativas deixam de ser documentadas e o que mais pode ter ficado de fora dos livros e de outros meios de comunicação.
