BERNARDO LIU | GALERIA REFRESCO

No dia 13 de fevereiro, aconteceu a abertura da exposição Ba Bao Fan, de Bernardo Liu, na Galeria Refresco, Rua do Rosário, 26, Centro do Rio. A mostra marca a primeira exposição individual de artistas representados da galeria e tem curadoria e texto crítico de Julie Dumont. Reunindo 36 obras, Ba Bao Fan faz referência ao “Arroz dos Oito Tesouros”, uma sobremesa chinesa cujo formato redondo e sabor adocicado evocam símbolos de união e de felicidade, sendo presença frequente nas mesas de festas tradicionais asiáticas, como destaque Dumont. O mote da exposição aproxima elementos culturais do Oriente às paisagens já familiares, mas inusitadas, de um Brasil popular. Trata-se, também, de uma combinação das memórias do artista e de sua história familiar, rememorando a imigração de seu avô, de ascendência chinesa ao Brasil. A “tapeçaria afetiva” construída, para utilizar uma expressão do próprio artista, Liu extrapola a experiência individual para criar um vínculo do cotidiano entre os povos.

A ocasião da abertura coincide com o Ano Novo Chinês; ganhando, assim, contornos surpreendentes sob o pano de fundo das festividades brasileiras do começo do ano. Em Ba Bao Fan, a comida surge enquanto forma de expressão indissociável da cultura e como alegoria do papel nutritivo da arte. Liu mistura técnica pictórica à prática culinária. Os materiais que utiliza fazem o papel de ingredientes e o resultado final compõe uma receita cultural umami, onde o doce e o salgado se intercambiam – um prato nacional compartilhado por países tão distantes quanto semelhantes. A leveza da acrílica óleo convive com as pinceladas marcantes da tinta à óleo, em um equilíbrio agridoce aos paladares visuais. A paleta de cores, que carregam diferente conotação simbólica em cada cultura, se acomodam em um delicioso refogado de imagens e objetos.

Nas palavras de Julie Dumont: “Bernardo Liu estabelece sob a proteção da serpente que acompanha este novo ciclo do calendário chinês, um retrato pessoal de um Brasil plural, rico em afetos e elementos trazidos de culturas distantes, inseridos no cotidiano mestiço. Assim o artista convida o público para uma celebração despretensiosa, uma mesa aberta com guaraná ginseng, miojo, arroz doce e feijão salgado. Uma homenagem visual à riqueza de um mundo plural, onde o kitsch, o simbolismo e o desejo de pintura se mesclam com a intencionalidade de um cozinheiro que, a fogo lento, elabora uma receita capaz de despertar memórias e emoções há muito tempo enterradas.” 

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