Atrás da Grande Muralha – Nova Arte Chinesa e Brasileira | Museu de Arte de Brasília (MAB)

Yao Lu, O barco do vinho no rio Pine, 2012 | FOTO: cortesia do artista

O público brasiliense vai conhecer em primeira mão a exposição “Atrás da Grande Muralha – Nova Arte Chinesa e Brasileira”, que será aberta ao público no próximo dia 23 de março, no Museu de Arte de Brasília (MAB). A mostra foi idealizada especialmente para o público brasileiro e traz a preciosa e pouco conhecida diversidade da arte contemporânea chinesa.

Um dos objetivos da curadoria é mostrar as diferentes maneiras pelas quais esses artistas utilizam elementos tradicionais da própria cultura, como a caligrafia, a tinta chinesa e os vestígios da pintura realista socialista, para criar obras criativas e impactantes, voltadas a questões atuais e globais. São trabalhos que traduzem esteticamente a pandemia da Covid-19, as desigualdades da globalização, a fragilidade da matéria, problemas ambientais, a hipocrisia humana e o território estreito e desolador do preconceito.

“Os artistas chineses primam por criar obras cheias de frescor, com reflexões sobre o mundo em que vivemos, mas, ao mesmo tempo, valorizam técnicas e temas locais e tradicionais. A partir de um mergulho na própria cultura, produzem obras inovadoras. É isso que faz dessa produção algo único e vibrante na arena internacional da arte”, afirma o curador mineiro e radicado em Brasília, Clay D´Paula.

Clay D´Paula é jornalista de formação e curador internacional, com residência em Sidney, Austrália, e Brasília, e Masters em Arte e Curadoria pela Universidade de Sidney na Austrália.

Para reunir as obras expostas no Brasil, ele fez várias viagens à China e algumas obras foram criadas especialmente para a exposição. “O público brasiliense terá a oportunidade de conhecer em primeira mão o projeto, antes de sua itinerância pelo país e internacionalmente”, comemora.

O gestor do Museu de Arte de Brasília, Marcelo Jorge, acredita que “em um momento de confronto entre Ocidente e Oriente, a Cultura pode criar uma ponte de entendimento entre os dois lados. A exposição é uma ocasião privilegiada para conhecermos melhor a China e vice-versa. Além disso, é a primeira vez, na história do MAB, em que a instituição recebe obras de artistas desse país”.

Christus Nóbrega, A roupa nova do rei (2015-2017) | FOTO: cortesia do artista

Obras

Entre os artistas chineses de grande representatividade dentro e fora da China, está Sun Xun, presente com três trabalhos produzidos durante sua passagem pelo Brasil, em 2017, que serão mostradas ao público pela primeira vez. Xun é um expoente da nova geração de artistas chineses e suas obras ambiciosas carregam narrativas pluriversais, ou seja, voltadas a várias sociedades e modos de pensar, ainda que lancem mão de suportes tradicionais da xilogravura e da tinta chinesa. “O visitante vai se impressionar com o talento excepcional desse artista, que busca inspiração em culturas diversas e na literatura para compor uma produção dinâmica e reveladora”, promete o curador.

Outros artistas com grande virtuosismo técnico participam do projeto. Angel HUI Hoi Kiu é um exemplo notável. Kiu se inspira na Dinastia Ming (1368-1644), período das brilhantes e celebradas porcelanas brancas e azuis, em suas pinturas com tinta chinesa, em que traz elementos do cotidiano de Hong Kong, como os parques, a flora e a fauna do lugar. Ela também transmuta objetos, ao desenhar e pintar sobre papel higiênico e lenços para assoar o nariz, por exemplo. “Assim eu transformo a natureza desses materiais, conferindo propriedades da arte a esses objetos antes utilitários’, explica Kiu.

Um ponto alto da exposição é a relação que alguns artistas brasileiros estabelecem com a cultura chinesa. “É tão forte, que quando o visitante chegar às salas da exposição será praticamente impossível para ele determinar se a obra foi criada por um artista chinês ou brasileiro. Há uma convergência estética imensa entre os dois grupos. É justamente essa confluência cultural que me estimulou a produzir a exposição, que levou quatro anos para ser organizada”, conta Clay.

O curador afirma que já foram realizadas no Brasil algumas exposições de artistas chineses, mas não de forma tão imbricada com a cultura brasileira e vice-versa. “Neste projeto, não existe separação entre os dois grupos de artistas. As obras relacionam-se, comunicam-se, fluem juntas, como águas de um mesmo rio. E, ao mesmo tempo, ao criarem novas conexões, suscitam reflexões sobre a sociedade global em que vivemos. É uma arte do aqui e agora”, explica.

Sun Xun, O cenário da América do Sul, 2017 | FOTO: cortesia do artista

O público encontrará obras em suportes e linguagens variados, como pintura (a tinta acrílica, a óleo e com tinta chinesa); escultura; fotografia; azulejaria; arte in situ; animação; e recorte em papel (ícone da tradição chinesa). Esta última técnica é trabalhada com maestria pelo brasileiro Christus Nóbrega, na série A Roupa Nova do Rei, de 2016, fruto de uma residência artística de 60 dias em Pequim, no ano anterior.

Desse mesmo artista o público poderá apreciar também a série inédita Coleção vermelha, 2021, na qual o artista estabelece paralelos entre os povos indígenas do Brasil e da China por meio da cor vermelha. “Graças à mobilidade e à curiosidade intelectual humana nos conectamos, aprendemos, compreendemos e evoluímos com outras culturas. As exuberantes obras de Nóbrega dificilmente poderiam ser materializadas sem a imersão do artista na vida chinesa”, elucida o curador.

A exposição acolhe obras inovadoras e provocativas de outros artistas de Brasília, como a artista gaúcha radicada em Brasília, Dulce Schunck, que há trinta anos desenvolve sua arte. Elas se conectam com narrativas chinesas, mas têm uma visão global, nada provinciana. Com isso, oferecem novas perspectivas e leituras estimulantes para o observador”, diz Clay.

Para celebrar a sua jornada, Schunck ganhará uma seção exclusiva na exposição para expor a sua série mais celebrada e dinâmica, Flora do Cerrado (2012-2021), totalmente impregnada pelo vocabulário chinês. “Minhas obras estabelecem conexões com a cosmovisão milenar chinesa: uma percepção orgânica da natureza, baseada na consciência da unidade e na interação de seus fenômenos”, descreve a artista.

O curador Clay D´Paula concluiu que “essa é uma oportunidade ímpar para a população de Brasília conhecer artistas com prestígio internacional, obras sofisticadas, e, principalmente, dotados de imensa sensibilidade para representar, com rigor e maestria, as belezas e principalmente os desafios que a humanidade atravessa em nosso tempo”.

Artistas participantes: Pu Jie, Angel HUI Hoi Kiu, Zinan Lam, Glênio Lima, Yao Lu, Ilana Lansky, Lígia de Medeiros, Taigo Meireles, Mzyellow, Raquel Nava, Wilson Neto, Christus Nóbrega, Alberto Oliveira, Heloisa Oliveira, Fernanda Pacca, Phil, Sanagê, Dulce Schuck Schunck, Joseph Tong, O Tropicalista, Wang Wu, Sun Xun, Tianli Zu.

Dulce Schuck Schunck, Calliandra, 2010 | FOTO: Cortesia da artisa.

Compartilhar: