Atos de revolta | MAM Rio

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) anuncia a exposição Atos de revolta: outros imaginários sobre independência, desenvolvida em colaboração com o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. A curadoria é de Beatriz Lemos, Keyna Eleison, Pablo Lafuente e de Thiago de Paula Souza, curador convidado.

A ser inaugurada em 17 de setembro de 2022, Atos de revolta parte da efeméride do bicentenário da Independência do Brasil para propor uma releitura desse processo histórico desde a arte. 

Por meio de obras de artistas contemporâneos e objetos da época colonial, Atos de revolta foca em uma série de levantes populares, motins e revoltas que antecederam esse momento ou que ocorreram nas décadas subsequentes — durante o Primeiro e o Segundo Reinado, e o período regencial. 

“A proclamação da independência não é um fato isolado e tampouco um desfecho. Ela resulta de uma série de insurgências populares e levantes burgueses que reverberaram por todo o território brasileiro, sendo frequentemente relegados a segundo plano nos livros de história”, analisa a curadora Beatriz Lemos. “Ao abordar as tensões e conflitos do sistema colonial, a exposição revela as contradições da historiografia brasileira, que produziu apagamentos de personagens determinantes, sobretudo de populações negras, indígenas e mulheres.”

Com o objetivo de discutir os diversos imaginários de país esboçados naquele contexto, a mostra faz referência à Guerra Guaranítica (1753-56), à Inconfidência Mineira (1789), à Revolução Pernambucana (1817), à Independência da Bahia (1822), à Revolta dos Malês (1835), à Cabanagem (1835-40), à Revolução Farroupilha (1835-45), à Revolta de Vassouras (1839) e à Balaiada (1838-41), entre outras. 

Para o curador convidado Thiago de Paula Souza, esses eventos, além de disputa por território, propuseram novos modelos de organização política, bem como outras concepções do sistema de direitos e a reorganização dos processos de distribuição econômica: “Atos de revolta pretende convidar os públicos a ler a história a contrapelo e a se perguntar quem foram as pessoas que conceberam um projeto de país. Que grupos triunfaram ou foram vencidos? Qual o papel dos artistas na construção de imagens sobre o que hoje entendemos como independência? Que personagens do passado impedem ou possibilitam a circulação de novas ideias?”.

Artistas brasileiros, de gerações e geografias diversas, foram convidados a pensar essa história desde os múltiplos levantes: Arissana Pataxó (BA); Ana Lira (PE); Elian Almeida (RJ); Gê Viana (MA); Gustavo Caboco Wapichana (PR) com Roseane Cadete Wapichana (RR); Marcela Cantuária (RJ) com a colaboração das Brigadas Populares; Tiago Sant’Ana (BA); e Giseli Vasconcelos (PA) com Pedro Victor Brandão (RJ). Além dos comissionamentos, a exposição inclui a remontagem de uma obra de Luana Vitra (MG) e trabalhos recentes de Arjan Martins (RJ), Glicéria Tupinambá (BA), Paulo Nazareth (MG) e Thiago Martins de Melo (MA). 

“Pensar em como a produção contemporânea se relaciona com alguns marcos e de que forma os artistas têm se apropriado da história para reelaborar o próprio fazer artístico são pontos centrais da exposição”, afirma Thiago. “Esses trabalhos nos ajudam a reconstruir narrativas e a fabular outras imagens para pensar o presente”.

As obras contemporâneas são apresentadas em diálogo com uma seleção de objetos e fragmentos dos séculos 18 e 19 (pórticos, colunas, maçanetas, frisos e outras estruturas) do acervo do Museu da Inconfidência, do Museu Histórico Nacional e do Convento Santo Antônio, no Rio de Janeiro, sinalizando conceitualmente os resquícios e descontinuidades de uma época que se mantém presente em nosso cotidiano como um sintoma do período colonial. Completam a mostra oito pinturas de Glauco Rodrigues (RS), pertencentes ao acervo do MAM Rio, que propõem uma reflexão imagética sobre a construção do país.

Os trabalhos apresentados respondem a cinco eixos conceituais que oferecem chaves de leitura para determinados acontecimentos: a figura do herói e a posição de liderança política; as construções simbólicas (bandeiras, hinos, brasões); os modos de organização e sua relação com sistemas de direitos; a definição de territórios/cartografia; e os processos de produção e circulação de valor.

“Ao longo de todo o ano de 2022, o MAM Rio tem se dedicado a refletir sobre a história do Brasil, usando a arte como ponto de partida. Para nós é importante que o museu esteja atento a seu tempo, que assuma sua responsabilidade de contribuir em processos de formação e educação. Nesse sentido, é importante que o trabalho seja feito em colaboração com outras instituições que pensam o passado e o presente desde a arte e a cultura, como o Museu da Inconfidência”, comenta Pablo Lafuente, co-diretor artístico do MAM Rio.

Atos de revolta: outros imaginários sobre independência se desdobra em dois projetos semi-autônomos que acontecem simultaneamente: uma mostra paralela com obras da artista Gê Viana, a ser apresentada no Palacete Princesa Isabel, em Santa Cruz; e o projeto de Ana Lira, que toma a forma de exposição interativa explorando as possibilidades emancipadoras das tradições musicais do território brasileiro. A exposição contempla um programa educativo e uma publicação com documentos e textos de ficção.

Essa exposição tem o patrocínio da Livelo, Instituto Cultural Vale, Ternium, Petrobras e Furnas através da Lei Federal de incentivo à cultura.

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