Ateliê Cidade Baixa | Centro Cultural Sérgio Porto

O Cidade Baixa, um dos ateliês de artistas visuais mais criativos da cidade, apresenta sua primeira exposição institucional no Centro Cultural Sérgio Porto. A coletiva “Superfícies” reúne obras de Ana Andreiolo, Clara Machado, Diana Sandes, Fernanda Morais, Maria Baigur, Pedro Carneiro e Raphael Couto, que também assina a curadoria. A mostra reúne trabalhos em diferentes suportes como pintura, fotografia, escultura e site specific.

O título da mostra faz alusão ao fato dos sete artistas terem em comum um certo enfrentamento da matéria em suas pesquisas artísticas. “De alguma forma, todos brincam com essa superfície da materialidade porque a própria matéria, a própria superfície do material é a questão. Então foi um ponto de partida para pensar a exposição colocando os trabalhos em diálogo”, explica o curador.

O Ateliê Cidade Baixa, que ocupa o segundo andar de um sobrado no Largo de Santa Rita 6, Centro do Rio, pensa no ateliê como um lugar de encontro e de troca. Além de ações como “portas abertas”, uma feira de múltiplos e eventos de performance, é comum receber outros artistas, curadores e colecionadores. “Eu gosto muito da palavra afetar, que ela também tem essa relação com afeto. Aqui um acaba afetando o outro, então dá pra perceber alguns pontos de influência, de conversas, de trocas, nos trabalhos dos artistas”.

ANA ANDREIOLO
Artista visual multidisciplinar, designer, astróloga e pesquisadora mestre em artes visuais (UERJ), sua proposta desdobra matrizes de linguagens sensíveis, experiências efêmeras e fenômenos enigmáticos, deixando emergir índices de mundos invisíveis e ocultados. Em “Superfícies”, a artista apresenta “Esquecer o ar, Paisagens Invisíveis”. A série remonta a madrugada em que seu pai faleceu de asfixia por câncer no pulmão Ana Andreiolo buscou o ar e a respiração para acalmar o pranto. Seus ciclos respiratórios foram cronometrados, em diferentes modalidades, ritmos e velocidade e se tornaram traços.

CLARA MACHADO
A produção de Clara Machado (Rio de Janeiro, 1994) se desenvolve em diversos meios. A artista tem um particular interesse na gravura em campo ampliado, escultura e na relação entre imagem e escrita. Há uma circularidade que atravessa os processos. “Gosto de pensar que eles se contaminam reciprocamente. O corpo, atravessado por questões como a morte, a memória e o erotismo, cruza todo o trabalho, e esse corpo se apresenta por vezes como rastro, como gesto, figurado ou evocado nas imagens”. Suas obras expostas na coletiva são fruto de uma investigação recente. “Na série denominada OCO, desenvolvo peças que gosto de pensar como ‘coisas corpóreas’, buracos que evocam uma corporeidade híbrida, convocam desde órgãos internos a cracas, seres parasitas que se acoplam nas paredes e se fundem à arquitetura. Esses OCOs são buracos cujos interiores são oblíquos, convidam mas ao mesmo tempo recusam o olhar”.

DIANA SANDES
Artista visual e fotógrafa carioca, Diana Sandes (1986) cria imagens que abrigam estados internos – silêncios, ausências. Sua pesquisa parte da observação do espaço e se desdobra em fotografias, objetos, filmes e instalações. Em “Superfícies” ela apresenta uma série de registros que fez de apartamentos vazios, todos em película. “É um vazio que carrega também rastros de uma presença. Então elementos antigos que ficam ali marcados, na parede, iluminação, objetos abandonados. E na série ‘Habitáveis’, eu falo sobre esses espaços que são uma temporalidade ali quase em suspenso, quase uma espera”.

FERNANDA MORAIS
Parte do Ateliê Cidade Baixa desde janeiro, Fernanda Morais tem sua pesquisa em uma fricção entre o texto e o têxtil. Professora da rede pública, pensa muito sobre os processos de educação e arte. “Desenvolvo uma poética que pensa a educação através deste corpo coletivo, que é a escola, e dos processos de ensino e aprendizagem e como isso reverbera no campo da arte. “Gosto de observar como acontece esse trânsito entre o que é escrito, o que é desenho, o que é palavra, o que é imagem”, conta. Na mostra, ela apresenta cinco painéis bordados, chamados “Sobrescrita”, iniciados em 2019.

​​MARIA BAIGUR 
A artista parte do ato fotográfico para abordar objetos, instalações, performances, filmes e a própria fotografia. Na mostra, ela apresenta uma pesquisa inédita, onde explora o papel fotográfico, criando imagens outras. “Os papéis são aparas que não viraram fotografias. Não têm um serviço no mundo, mas reconfigurados, recombinados, viram finalmente uma outra imagem”, explica. A artista também pesquisou madeiras que expandem a moldura e encontrou uma muito rígida, o Roxinho, com uma grande variação de cor para utilizar nessa série. “A relação entre essa madeira muito rígida e o papel muito maleável é o ponto dessa série de trabalhos”.

PEDRO CARNEIRO
Pedro Carneiro é mestrando em Arte e Cultura Contemporânea pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), realizou a residência Pesquisa em Artes 2021 do MAM Rio e foi selecionado para a 13° Bienal do Mercosul, através da Chamada Aberta para a exposição Transe. Na exposição, ele faz um site-specific no Espaço Sérgio Porto a partir da matriz de cartuchos de bala, que comprou em feiras do Rio de Janeiro. “É uma obra efêmera que quando acabar a exposição, vão pintar de branco”.

RAPHAEL COUTO
Artista visual, professor e pesquisador, Raphael Couto (São Gonçalo/RJ, 1983) apresenta trabalhos de gravura em metal, em uma situação de relevo, como parte de um processo de queima mais longa da superfície da placa pelo ácido. “Comecei a criar umas placas que fossem frente e verso, que começaram a fazer mais sentido enquanto objetos do que necessariamente enquanto matrizes de uma impressão, tensionando este lugar da superfície. “Ë um material mais tradicional, mais histórico, que está colocado ali, de alguma forma, em xeque nestas superficialidades”.

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