Alina Duchrow, Fernanda Adamski e Marcela Campos | Galeria Antônio Sibasolly

A Galeria Antônio Sibasolly lança, simultaneamente, no sábado, 8, às 18h, mostras das artistas Fernanda Adamski, Alina Duchrow e Marcela Campos. As individuais foram selecionadas via edital do Programa de Exposições da instituição, nas categorias estadual, nacional e regional, respectivamente. Realizado pela Prefeitura de Anápolis/Secretaria de Integração Social em parceira com a Associação dos Amigos da Galeria de Artes Antônio Sibasolly, o projeto conta com aporte de R$ 100.000,00 do Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás.

Em sua segunda edição, o programa recebeu 198 inscrições vindas de todo o Brasil e coube à Comissão de Seleção composta por Orlando Maneschy, Maria Adelaide Pontes e Paulo Henrique Silva – coordenador da Sibasolly – a escolha dos nomes que vão ocupar as salas da Galeria até o mês de agosto. As propostas de exposições selecionadas nas categorias estadual e regional vão receber, cada, R$ 12.500,00 de Prêmio Participação, e na nacional, R$ 20.000,00 (menos impostos), explica Paulo Henrique Silva.

Além das mostras, Fernanda, Marcela e Alina realizam oficinas de formação destinadas a artistas e estudantes de artes e áreas afins. O momento de conversa e troca de experiências entre as artistas e público está marcado para o dia anterior ao início das mostras, 7 de junho, no Cine Sibasolly, espaço recém-inaugurado. Não é necessário fazer inscrição para participar.

“Nosso programa de exposições se apresenta ao artista como mais um espaço de ocupação, de visibilidade para sua produção e de estímulo à reflexão sobre os movimentos estéticos em desenvolvimento ao integrar às exposições ações de formação artística”, afirma o coordenador da Galeria Antônio Sibasolly, Paulo Henrique Silva. Ele destaca que a Sibasolly passou por ampliação recente e agora conta com aproximadamente 400 m² de espaço expositivo, dando continuidade às políticas públicas no setor das artes visuais que têm se consolidado nos últimos anos.

 

Selecionada na categoria estadual, a anapolina Fernanda Adamski vive um bom momento em sua trajetória. Contemplada no 27º Salão Anapolino de Arte – na categoria ‘Fomento à Arte Anapolina’ – com o ‘Prêmio Residência Pé Vermelho’, a artista desenha paisagens vastas a partir de pequenos elementos, sinais gráficos e símbolos que codificam parte de sua história pessoal. Seu gesto meticuloso e detalhado é como uma escrita, onde elementos únicos se expandem e se transformam a cada imagem.

Como atividade de encerramento de sua residência, foi realizada no Pé Vermelho Espaço Contemporâneo, até 5 de maio, a exposição ‘Rarefeitas’ – mesmo título dado à mostra que acontecerá na Sibasolly – resultado de suas experimentações sob orientação dos artistas João Angelini, Luciana Paiva e Marcela Campos. Segundo Fernanda, sua estadia neste espaço proporcionou-lhe um “mergulho em conversas inspiradoras, trocas com outros artistas e agentes da arte, visitas a colecionadores e galerias do DF, que muito enriqueceram seu repertório profissional e pessoal”.

No que diz respeito ao seu trabalho, inserido na série “Ao meu redor”, Fernanda utiliza desenhos a nanquim e aquarela sobre papel para abordar a problemática ambiental. Seu olhar crítico é evidente na representação de um céu distorcido e carregado de fórmulas químicas, simbolizando a poluição atmosférica.

A artista estabelece um campo de reflexão, partindo do particular para o geral. “É fascinante como o microdetalhe, que remete ao íntimo, se transmuta na sensação de vastidão em suas paisagens, em suas discussões sobre o meio ambiente e a água, elemento recorrente em sua produção”, afirma Paulo Henrique Silva, curador da mostra ‘Rarefeitas’.

Água, infância e memória

A água, com seu movimento e metamorfoses, também é uma presença constante nas pesquisas e na produção de Marcela Campos, jovem artista de Planaltina, no Distrito Federal, que   navega entre suportes e linguagens diversas para abrigar e expressar sua poética visual. Pintura, performance, objetos e vídeo são meios que ela utiliza para falar sobre solidão, sobre a melancolia e o ostracismo da mulher adulta, que encerra em si as melancolias da infância guardadas na memória.

Sua abordagem é multifacetada, englobando desde o contraste entre preto e branco até o dinamismo das águas em aquarelas e papel. Selecionada na categoria regional do Programa de Exposições da Sibasolly, Marcela conta que ‘Memórias líquidas: entre o real e o fantástico’, que será apresentada a partir do dia 8 de junho, em Anápolis, é resultado de outra realizada na Galeria Referência, em Brasília, uma das quais mais diversificou os materiais.

Aquarelas, azulejos, objetos e até uma performance com gelo derretendo para revelar uma peça compuseram seu repertório criativo. Para ela, todos esses elementos serviram para explorar a conexão entre a memória e as brincadeiras da infância.

Fundadora do grupo TresPe (Programa de Pesquisa em Performance), Marcela é parte de um coletivo que busca aprofundar questões relacionadas à performance através da produção poética. Além disso, é membro do Grupo EmpreZa (GO) desde 2012, consolidando sua presença e contribuição na cena artística regional.

Em suas exposições, Marcela convida o visitante a se envolver como um explorador, como uma criança descobrindo um mundo novo. Suas obras não são apenas para serem vistas, mas para serem experienciadas, refletindo não apenas sua habilidade técnica, mas também sua sensibilidade e profundidade temática.

Ao explorar as águas, Marcela Campos não apenas cria arte, mas também convida seu público a mergulhar em questões profundas sobre identidade, memória e transformação.

Meio ambiente, memória e resgate

A Galeria Sibasolly recebe também a exposição “Teologia Natural”, da artista Alina Duchrow, selecionada na categoria nacional desta segunda edição do Programa de Exposições. A mostra, apresentada em Rabat, no Marrocos, durante o centenário da Independência em 2022, agora tem sua estreia no Brasil, revelando uma narrativa poderosa que atravessa fronteiras e tempos.

 

Alina Duchrow, arquiteta e artista visual nascida em Fortaleza, no Ceará, atualmente radicada em Rabat, Marrocos, apresenta uma obra que vai além do estético, mergulhando nas profundezas da história e da memória coletiva. Com uma pós-graduação em Artes Visuais pela Universidade Alanus Hochschule, na Alemanha, e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da UNB, Alina traz em sua bagagem uma sólida formação que se reflete em sua arte.

A exposição “Teologia Natural” é um convite para uma jornada de reflexão sobre a relação entre o homem, a natureza e a história. Por meio de instalações, desenhos, vídeos e micronarrativas, Alina mergulha nos vestígios do colonialismo, desenterrando eventos esquecidos ou deliberadamente negados pelo discurso oficial.

O título da exposição remete à crença cristã de que a natureza existia para a melhoria do homem, contrastando com a realidade da exploração desenfreada dos recursos naturais em prol dos interesses mercantis. Alina denuncia os impactos da exploração da borracha na Amazônia, explorando as consequências ambientais e sociais desse processo histórico.

Destaque-se a instalação simbólica que representa a restituição da seiva para o mundo, desafiando a lógica mercantilista e buscando trazer de volta a floresta por meio desse elemento vital. Além disso, o vídeo preserva a memória dos migrantes cearenses na Amazônia, enquanto a instalação “Um”, realizada no Marrocos, narra a jornada dos judeus em busca do Eldorado da borracha na Amazônia, conectando mundos distintos e memórias que se entrelaçam.

“A exposição “Teologia Natural” não é apenas uma mostra, é uma provocação para repensarmos nosso papel como seres humanos e nossa relação com o meio ambiente e a história” afirma a artista, convidando o espectador a refletir sobre os traumas históricos e a ressignificá-los por meio da linguagem artística, em uma jornada que transcende fronteiras geográficas e temporais.

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