Alice Yura | Casa Fiat de Cultura

A solidão, muitas vezes, se revela nos detalhes: na cama desfeita, no travesseiro fora do lugar, na luz que atravessa as frestas. É nesse território íntimo e silencioso que a artista sul-mato grossense Alice Yura apresenta a exposição inédita “Enquanto aguardava a solidão”. Em cartaz na Casa Fiat de Cultura, a mostra traz cinco séries fotográficas que nascem do cotidiano íntimo da artista, revelando fragmentos de um tempo suspenso em que a casa e o corpo tornam-se territórios de sensibilidade e reflexão. 

Com obras produzidas a partir de 2021, a exposição parte de um recorte temporal que atravessa o período da pandemia — momento em que a reclusão intensificou as experiências de solidão e transformou o ambiente doméstico no centro da vida. As imagens registradas por Alice, muitas vezes borradas ou sobrepostas, registram cenas corriqueiras. A partir daí, a artista constrói uma narrativa visual que é profundamente pessoal e, ao mesmo tempo, reconhecível pelo outro. 

Natural de Aparecida do Taboado (MS), Alice Yura desenvolve uma produção centrada na articulação entre arte e vida. Seu trabalho investiga temas como identidade, alteridade, vulnerabilidade, intimidade, gênero e permanência, sempre a partir da experiência vivida. “Ainda que meus trabalhos possuam registros biográficos, meu interesse não é fazer uma autobiografia. É mais sobre o atravessamento entre o que sou e o mundo”, explica Yura. 

Embora seja uma artista trans, Alice não coloca essa identidade como ponto central da sua narrativa. Em vez disso, cria pontos de conexão com o espectador a partir de objetos e situações simples, como um canto de casa ou a desordem deixada por alguém que ali vive. Sua obra propõe, então, um espaço de identificação no qual o íntimo e o coletivo se entrelaçam. “São documentações do sensível, que qualquer pessoa pode se identificar”, reflete a artista.

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