Usando acrílica e óleo sobre tela, Alberto Saraiva vai construindo uma narrativa própria em nuances coloridas capazes de revelar sutilezas, entre planos e figuras, ao olhar mais atento. “Sobre Pintura”, individual do artista que ocorre entre maio e junho, na Galeria Patrícia Costa, apresentará um conjunto com cerca de 20 pinturas de Alberto Saraiva. A curadora, Daniele Machado, selecionou um recorte que vai de 2009 à produção recente, de 2025 – algumas obras foram produzidas para esta exposição, como o díptico “Chuvinha de outono”. Segundo Daniele, a pintura de Alberto é construída por partes, com centros de gravidade coexistentes, que ora disputam, ora desorientam, ao tensionarem a perspectiva clássica que tanto educou o olhar ocidental. O conjunto reflete a investigação do pintor sobre a metafísica em diálogo com a tradição pictórica.
“Eu busco a presença humana no horizonte, no desconhecido, ainda que ela não esteja dentro da tela, mas fora dela”, afirma Alberto Saraiva.
Mesmo tendo começado a se interessar por arte aos 7 anos de idade, quando começou a desenhar, foi aos 21 que Alberto teve seu real encontro com a pintura, tendo Katie Van Schepenberg como a sua grande mestra, durante dez anos, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (onde anos mais tarde ele mesmo viria a se tornar professor). Katie foi, para ele, uma referência que o ensinou a compreender a pintura como realidade física e, igualmente, como pensamento. “Costumo sempre relembrar o ‘paradoxo da Katie’, que dizia que a pintura não é algo que você ensina, no entanto algumas pessoas aprendem. A pintura, na verdade, é um pensamento que parte da matéria, que são os pincéis, as tintas, os lápis; a partir daí criamos uma imagem que se torna um pensamento claro que pode se desenvolver ou não. Pintura é um processo, passa pelo refinamento do pensamento”, diz ele, que destaca a contribuição de Katie Van Schepenberg em uma das telas a ela dedicada.
A todo tempo, olhar para as pinturas é questionar sobre o que está ali e o que extrapola os limites do mundo físico. Ele vai deixando pistas para que esse movimento seja conduzido e descoberto pelo espectador, alternando a extrema habilidade técnica naturalista com as referências do universo gráfico. É uma obra “sobre pintura” e sobre a condição do homem contemporâneo: o que vive no tempo oportuno, suspendendo o cronos.