A parte maldita: um esboço | Sim Galeria

…a exposição é um ato de revolta, de insubordinação ao Ser produtivo, ao horizonte cataclísmico da produção e é, principalmente, um ga(e)sto improdutivo.

Ricardo Sardenberg

Ser produtivo, ordem que alimenta a energia explosiva de tempos tão conflituosos.  A  criação, o consumo, as relações pessoais próximas ou distantes, tudo isso se justifica por ser produtivo, como analisa o curador da exposição, Ricardo Sardenberg. É sobre o engano de que produzir e cosumir para crescer seja algo infinito que ele evoca a maldição, pois o crescimento não é infinito. “As pessoas terão que dispor dessa energia acumulada de forma improdutiva, desinteressada e avessa ao lucro”.

Segundo o curador, a ação mais revolucionária é aquela que simplesmente nega qualquer vontade, desejo ou obrigação de ser produtivo. “O herético contemporâneo luxuosamente dissipa, ou dispensa, toda sua energia acumulada de forma improdutiva. Só assim é possível resgatar o jogo, o sexo, o sagrado, a arte, enfim, a vida. Só assim pode-se evitar a guerra total e aniquiladora que nos aparece no horizonte”, escreve.

A parte maldita, texto de Georges Bataille de onde Sardenberg extraiu o título e a inspiração para esta exposição,  propõe e tenta dar conta desse fluxo contínuo de energia que “o sol dá sem nunca receber”.  Segundo o curador, a exposição  é um paradoxo, ou uma ambivalência, pois justamente propõe fazer sem acrescentar nada. Não como um ato de negação, mas pelo contrário, é um ato de afirmação.

“A partir de obras de arte que estão no mundo há muito tempo, ou que foram criadas para esta exposição — elas próprias aqui desapegadas de cronologias ou tradições — que evocam o dispêndio próprio do fato artístico; que só é arte se for inútil, e os temas dissipadores onde ela acontece: o jogo, o sexo e a morte”, completa.

Fazem parte da mostra obras dos artistas: Cildo Meireles, Di Cavalcanti, Eli Sudbrack, Gokula Stoffel, Ivens Machado, Lais Myrrha, Leonilson, Luiz Schwanke, Maria Martins, Rodolpho Parigi, Tunga, Victor Gerhard e Yuli Yamagata.

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