Vik Muniz | Galeria Nara Roesler

Vik Muniz abre a exposição Handmade, na qual retoma com força renovada caminhos e procedimentos que já havia trilhado no passado, investigando de forma aguda e sintética a tênue fronteira entre realidade e representação, entre o objeto original e sua cópia. São mais de 70 obras, nas quais deixa de lado qualquer recurso narrativo e torna explícito o esqueleto processual do trabalho, ao mesmo tempo em que brinca com as certezas do espectador.
“Sempre funciona das duas maneiras. O que você espera ser uma foto não é e o que você espera que seja um objeto é uma imagem fotográfica”, ironiza Vik. “Em uma época em que tudo é reprodutível, a diferença entre a obra e a imagem da obra quase não existe”, acrescenta.
Durante o processo de pesquisa de seu catálogo raisonné, lançado recentemente, Vik se deu conta de como havia deixado de lado um procedimento recorrente em sua produção no início de sua carreira, quando tinha menos envolvimento com o campo da fotografia: a manipulação da superfície fotográfica após a realização da imagem. Retomou então tais estratégias, refazendo e complementando as fotografias. O resultado é uma espécie de antologia, formada por projetos antigos e recentes, bastante estimulante em tempos de Bienal. “É como um cardápio das ideias que já usei, um compêndio de estratégias expostas de formas muito simples”, sintetiza Vik, que no momento também se dedica à cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos 2016, da qual será um dos diretores.
O público não verá em Handmade obras realizadas a partir de imagens conhecidas, tampouco referências a materiais mundanos – aspectos comuns no trabalho do artista. Vik alude aqui à vasta tradição da arte abstrata, destilando para isso suas fórmulas básicas na criação de maneiras inusitadas de meditar sobre a imagem e o objeto, sobre a ambiguidade dos sentidos e a importância da ilusão. Handmade traça a constante preocupação do artista em transcender as dimensões simbólicas da imagem.
Um exemplo de investigação que não se encerra com o ato de fotografar é Two Nails (1987/2016), uma espécie de trabalho-chave em Handmade e cuja primeira versão pertence à coleção do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York. Extremamente enxuta, a composição mostra uma folha de papel presa por dois pregos: um real, o outro fotografado, gerando um quadro tão ambíguo que se torna impossível identificar as diferenças por meio de uma reprodução fotográfica. “É necessário estar diante da obra. E mesmo assim você terá dúvidas”, ressalta Vik.
Além da paradoxal relação entre imagem e objeto e do recorrente uso de estratégias ilusionistas – “A ilusão é um requisito fundamental de todo tipo de linguagem”, diz –, esses trabalhos flertam com a arte conceitual e estabelecem um intenso diálogo com a arte abstrata, cinética e concreta. Sobretudo, segundo Vik, pelo interesse comum em relação às teorias da Gestalt, mais especificamente nos campos da psicologia e da ciência.
Repetição, ritmo, profundidade, espaçamento, uso das cores primárias ou gradações sutis de cinza e preto estão entre as questões caras à abstração e que compõem o alfabeto com o qual Vik lida em Handmade. Mas ele vai além disso. Lança mão do vocabulário construtivo para mais uma vez colocar em questão o estatuto da imagem no mundo contemporâneo. “A exposição mostra um artista diferente e que sou eu ao mesmo tempo”, conclui.
No dia da abertura, às 17 horas, o artista conversa com a curadora Luisa Duarte e o público, no espaço da galeria, sobre a exposição e seu processo de trabalho. Entrada franca.

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